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Vamos conversar sobre capacitismo?

Basta olhar em volta e analisar rapidamente a sociedade em que vivemos para identificar algumas formas de discriminação que atingem os chamados grupos minoritários. Alguns desses preconceitos são mais debatidos cotidianamente e, por conta disso, mais comumente detectados — enquanto outros ainda são bastante desconhecidos.

O capacitismo é um deles. Você já ouviu falar nessa forma de preconceito? Sabe o que significa? Continue na leitura do texto porque vamos conversar um pouco sobre o assunto.

O que é o capacitismo

O capacitismo, como o próprio nome sugere, é a forma de preconceito que está relacionada com a capacidade dos indivíduos ou, no caso, a não-capacidade de realizar determinadas funções ou atividades. 

Ele atinge, principalmente, as pessoas com deficiência, que muitas vezes são encaradas como “anormais” ou inferiores por conta de suas dificuldades ou impossibilidade de executar determinadas ações. 

O capacitismo existe por levar em consideração a construção social de que o “normal” é o corpo padrão, “perfeito”. Esse preconceito pode ser observado de diversas maneiras na sociedade, tanto quando locais (físicos e, até mesmo, virtuais) não são pensados para receber e integrar pessoas com deficiência quanto ao se desacreditar da competência e das possibilidades dessas pessoas e, até mesmo, quando elas são vistas e tratadas de forma romantizada ou infantilizada.

Capacitismo nos ambientes
Um ambiente que não é preparado para receber pessoas com deficiência é capacitista.

Ambientes, tanto físicos quanto virtuais, que não levam em conta a acessibilidade a pessoas com deficiência são capacitistas por entenderem como padrão pessoas que não tenham dificuldades. Um estabelecimento público que não tenha elevadores, rampas ou banheiros adaptados, por exemplo, está negando ou dificultando o acesso de deficientes físicos. 

O mesmo vale para espaços virtuais: esse assunto veio à tona com o aparecimento da nova rede social, Club House, que, sendo focada apenas em áudios sem transcrição, não leva em consideração a existência e a integração de pessoas com deficiência auditiva, por exemplo. 

Segundo o Panorama Nacional e Internacional da produção de indicadores sociais, publicado pelo IBGE em 2018, 6,7% da população brasileira tem alguma deficiência. De acordo com dados da ONU, mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo possuem deficiência. Essas pessoas devem ser contempladas e respeitadas pela sociedade.

Como evitar ser capacitista

Capacitismo é crime e está previsto na legislação por meio da Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência. O Artigo 88 prevê penas de reclusão e multa para pessoas que praticam, induzem ou incitam descriminação de outrem em razão de sua deficiência. Essas penas podem ser agravadas de acordo com o cargo ou posto de responsabilidade do infrator. 

Para cumprir a lei e também, é claro, tornar a sociedade um lugar melhor e mais empático, garantindo o respeito a todos os indivíduos, confira algumas dicas de como evitar o capacitismo no dia a dia, por meio do vocabulário e das ações.

Capacitismo - crianças
Saiba como evitar e combater a discriminação de pessoas com deficiência para um mundo mais justo, respeitoso e empático.

Sim, vocabulário. Poucas vezes paramos para pensar, mas nossa linguagem pode reforçar inúmeros preconceitos. Termos como “retardado”, “imbecil” ou “mongol” são extremamente ofensivos, quer quando são utilizados diretamente para se referir a pessoas com deficiência, quer quando são proferidos com teor de xingamento para pessoas típicas.

Existem, também, algumas expressões usadas no dia a dia que devem ser evitadas, como “dar uma de João sem braço” ou “cego de raiva” ou, ainda, “estava aqui autistando”. Figuras de linguagem como essas são utilizadas sem que paremos para pensar em sua origem ou significado, mas são pejorativas e capacitistas.

Na hora de conversar com uma pessoa com deficiência, trate-a como qualquer outra pessoa: nada de perguntas constrangedoras sobre sua condição ou suas capacidades, não se dirija a ela com infantilização, como se ela não fosse capaz de entender o que você está falando, e tampouco supervalorize os seus feitos. Considerá-la extraordinária por suas conquistas também é capacitismo, assim como esperar que ela sempre tenha uma história de superação para contar. 

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Inclusão Escolar X Capacitismo

Citando novamente a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, seu capítulo IV é inteiramente dedicado à temática da educação como um direito incontestável e atesta a obrigatoriedade de um sistema educacional inclusivo em todos os seus níveis.

É impossível falar sobre inclusão escolar sem falar em capacitismo, já que incluir verdadeiramente passa por pensar e estruturar recursos e maneiras que garantam a participação efetiva do aluno com deficiência no dia a dia, nos processos e nos grupos. 

Capacitismo e inclusão escolar
Para que as crianças com deficiência sejam realmente incluídas, é preciso fazer o possível para evitar o capacitismo nas escolas.

Existe uma frase que ficou bem conhecida quando esse assunto entra em pauta e que, embora de autor desconhecido, faz muito sentido e vale a pena ser citada: “Diversidade é convidar para a festa. Inclusão é convidar para dançar.” Ela é um excelente ponto de partida para que seja possível pensar uma inclusão verdadeira. 

“Aceitar” a matrícula de um aluno com deficiência na escola é não fazer nada menos que a obrigação legal. É necessário mais que isso, é preciso driblar o capacitismo para garantir que essa criança tenha o mesmo direito que as outras de se desenvolver e ser acolhida na comunidade escolar. 

Quando publicamos nosso texto sobre a importância da inclusão escolar, entrevistamos Pérola Sanfelice, que é professora e mãe de duas crianças, sendo uma delas portadora da síndrome de Rett. Ela nos contou uma história que repetiremos aqui, já que ela é a representação prática perfeita da frase citada: inclusão é convidar para dançar.

“Me emociona pensar que, na escola da minha filha, a inclusão é verdadeira, e acho que é um exemplo a ser seguido. Por ter interesse no assunto, sigo muitos perfis no Instagram de pais de crianças atípicas e reparei, nos vídeos das festinhas da escola, que muitas delas dançavam no colo, outras ficavam sentadas por perto enquanto os amigos dançavam. De um modo geral, era possível ver a criança ali no meio tentando se adaptar a um mundo que grita que elas são diferentes. “

“Na festa junina da escola da Pétala, assistimos a algo que eu nem imaginava ser possível: adaptaram a turma às dificuldades dela. Todos os amiguinhos têm habilidades para dançar e executar coreografias, mas, como um gesto de acolhimento, amor e empatia eles fizeram uma coreografia pensada para minha filha. “

“Todos sentados, de mãos dadas, brincando e gesticulando, assim como ela, que certamente entendeu o significado disso tudo e era a criança mais feliz da roda. Ela foi incluída de verdade.”

Como as escolas podem driblar o capacitismo?

Conversamos também com Fátima Fontenelle, psicóloga com pós-graduação em psicopedagogia, supervisão e direção escolar e que trabalha há 42 anos com educação. Ela diz que a Lei da Inclusão certamente foi um grande passo, mas que ainda estamos engatinhando na busca de uma sociedade igualitária.

Fátima comentou que ainda existem inúmeros aspectos físicos que, ao menos na maioria das escolas, não são adequados: “Faltam elevadores, rampas de acesso, mesas anatômicas, bebedouros, cantinas e refeitórios preparados, além da falta de profissionais qualificados com cursos em psicopedagogia, braile e Libras, entre outros.”

Ela ainda reitera que, no dia a dia da jornada escolar, é preciso focar a energia em estar constantemente conscientizando toda a comunidade de professores, alunos e famílias a lidar melhor com o diferente e acolher a todos sem discriminação:

Quando interagimos com uma criança com deficiência e tomamos decisões por ela, não estamos ajudando, apenas atrapalhando. Não somos nós que decidimos que ela não pode participar de uma aula de educação física devido às suas condições, o deficiente físico pode e deve participar, da maneira que conseguir”, comenta. “Se existe um aluno com deficiência visual na sala, que tal propor uma atividade em que todos sejam vendados? Ensinar as crianças a se colocarem no lugar do outro ajuda a evitar o capacitismo. Presumir o que o outro pode ou não fazer é ser capacitista.”

Convide a pessoa com deficiência a tomar suas próprias decisões
Inclusão é convidar o aluno com deficiência a tomar decisões sobre sua presença em atividades e, é claro, permitir sua participação efetiva.

Por fim, a educadora deixou algumas dicas para a prática da inclusão não capacitista dentro das escolas:

  • Realizar dinâmicas em grupo para tratar, com as turmas, sobre esse tema, chamando para a conversa e a conscientização.
  • Trabalhar a orientação educacional para que os alunos aprendam a usar as nomenclaturas corretas e não preconceituosas para se referir aos colegas e demais pessoas com deficiência.
  • Não antecipar as decisões dos alunos com deficiência e nem fazer escolhas que eles mesmos podem fazer.
  • Acreditar nas possibilidades de linguagens não verbais e incentivá-las dentro da comunidade.
  • Utilizar da música, dos jogos, das brincadeiras e da arte para incentivar a inclusão e a participação de todos os alunos.
  • Lembrar que a escuta sempre será o elemento mais importante e passar essa mensagem para toda a comunidade. Pessoas com deficiência merecem ser escutadas e vistas.
  • Nunca desistir de um aluno, as tentativas de entendê-lo e de ensiná-lo, mesmo que demore mais, serão entendidas como acolhimento e empatia. 

Fátima termina dizendo que a educação inclusiva deve ser muito mais que uma obrigação, e sim um convite a sair da zona de conforto para transformar a sociedade: “devemos buscar, sempre, educar sem diferenças e amar sem fronteiras”.

Agora que você leu esse texto, entendeu o que é capacitismo e vai se tornar mais uma pessoa ativa na luta contra o preconceito para com as pessoas com deficiência? Conte conosco para isso!

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